quinta-feira, 12 de julho de 2012

Ciranda do Conhecimento

Depois de longo tempo, retomo a página do Ciranda do Conhecimento, apresentando a vocês o texto de uma pessoa muito especial pra mim. Patrícia Ottoni, mais conhecida por Pati, foi minha colega de trabalho há algum tempo e tornou-se uma grande e importante amiga. Aprendi a admirá-la por sua inteligência, esforço em promover o bem comum e a dedicação que oferece à educação e à transformação social. Um exemplo a ser seguido por todos os profissionais recém formados e até aos calejados no segmento que por algum motivo se acomodaram na profissão. Se tem uma lição que aprendi com a Pati? Sejamos verdadeiros com nossos princípios, façamos de nossa profissão nossa inspiração pessoal e coletiva e não paremos nunca, sob hipótese alguma, de aprender, aprender e aprender!

Uma excelente leitura a todos!

ATENDIMENTO EDUCATIVO À INFÂNCIA E À JUVENTUDE NO TERCEIRO SETOR E A FUNÇÃO DO COORDENADOR EDUCACIONAL
Por Patricia Ottoni 
Autora do Ideias Pedagógica (www.ipedagogicas.blogspot.com)

Podemos considerar as ONG’s (Organização Não Governamental) como uma organização civil que presta serviços humitários e de interesse público. Essas entidades surgem a partir de uma demanda social que não foi totalmente suprida pelo Estado.

As ONG’s constituem o terceiro setor, ou seja, não são empresas privadas, nem vinculadas ao governo. Possuem autonomia em relação a sua gestão, podem angariar recursos financeiros das iniciativas privadas e do próprio governo e oferecem um serviço público e necessário.

As instituições do terceiro setor têm consolidado sua atuação em várias áreas: saúde, meio ambiente, geração de renda, difusão cultural etc. Entretanto, gostaria de apresentar alguns tópicos em relação às organizações que operam no campo da educação, especialmente, na formação de crianças, adolescentes e jovens e à função do coordenador educacional neste contexto.

Inicialmente as organizações sociais que atendiam ao público infanto-juvenil precisavam acolher a uma demanda de mães que necessitavam de trabalhar e não podiam atuar integralmente na criação dos filhos, ou, de famílias que não tinham condições para assumirem a educação de seus pequenos.

Assim, o trabalho nessas entidades estava focado na ocupação do tempo dos infantes (muitas vezes com atividades relacionadas à educação religiosa, ao reforço escolar, ao artesanato, à música, às atividades esportivas) e nos cuidados de higiene e de saúde. As pessoas que colaboravam neste atendimento, em sua maioria, eram cuidadores ou especialistas do esporte, da arte ou da saúde, sem uma formação específica na área da educação.

Podemos denominar este tipo de atendimento como assistencialismo. Em uma prática assistencialista o foco principal é o cuidar. Por ser uma ação espontaneísta não existe uma intenção definida em relação à formação dos sujeitos.

Nessa estrutura organizacional todos estão voltados diretamente para o público atendido. Não há uma clareza de funções e objetivos a serem alcançados, trabalha-se para resolver os problemas que surgem no decorrer do dia-a-dia, sem a preocupação de entender as causas e consequências desses problemas.

Nesse contexto, a função do coordenador educacional envolve as tarefas de manter a disciplina das crianças e adolescentes, fazer reuniões com pais, organizar eventos comemorativos e supervisionar o trabalho dos educadores.

Portanto, não há a necessidade de uma estrutura de gestão das ações e das pessoas, ou seja, não se planeja e executa projetos a fim de visualizar metas e conquistas. Não há a preocupação em avaliar o caminho percorrido, enfim, não há reflexão sobre a prática.

Um dos efeitos colaterais desse tipo de atendimento é que o assistencialismo não contribui para promover a transformação de realidades do público atendido. Por se tratar de um auxílio repetitivo não permite que o indivíduo mude a sua condição de carente e nem tome consciência de suas potencialidades.

Ainda hoje, podemos encontrar muitas entidades que mantêm uma prática assistencialista de atendimento, caracterizada por uma filantropia momentânea, ou seja, sem um acompanhamento processual.

Entretanto, os tempos são outros. Os acontecimentos do século XX e XXI e a era das tecnologias da informação trouxeram uma nova organização da vida, com outras possibilidades, problemas e demandas.        
Podemos, de forma superficial e rápida, citar:
- As mulheres conquistaram seu espaço no mercado de trabalho e se dedicam cada vez menos a manutenção do lar;
- Há uma reorganização dos arranjos familiares: existem configurações diferentes de famílias, em que cada um ocupa o papel que lhe é mais propício, pouco fundamentado nas questões de gênero;
- A comunicação entre as pessoas ocorre em alta velocidade e o acesso à informação é ilimitado, mas isso não significa informação de qualidade, nem construção de conhecimento;
- O consumismo exacerbado impera e como consequência os recursos naturais estão se esgotando;
- A escola, importante instituição de regulação social, vive um processo de precarização do ensino e de formação dos alunos.
- As crianças e os adolescentes passam maior tempo sozinhos e com acesso facilitado às tecnologias da informação, ocupando seu tempo nas redes sociais virtuais e com os games.

Diante dessa sociedade, podemos concluir que a principal demanda destes tempos é a formação de pessoas capazes de viver em um mundo instável sem se tornarem volúveis, que sejam capazes de pensar sobre suas ações, interagir consigo mesmo e com o outro, selecionar informações construindo conhecimento e tomar decisões fundamentadas em princípios éticos.

Perante esse cenário, em relação às organizações sociais, percebemos que um atendimento assistencialista não conseguiria suprir as demandas que a sociedade, da forma como está organizada, nos impõe.

As ONG’s precisam reestruturar suas ações. Isso significa romper com um ciclo de repetição de atividades e iniciar um novo ciclo de planejamento, desenvolvimento, monitoramento e avaliação de ações. A reflexão sobre a própria prática é uma postura essencial nesse processo:
- Quem somos?
- Que visão de mundo temos?
- Quais sujeitos queremos formar?
- Onde queremos chegar?
- Quais são os valores que buscamos praticar?
- Qual é o impacto que as nossas ações produzem nos sujeitos e na comunidade?

A partir desses questionamentos elucida-se a intencionalidade das atividades, isto é, pelo o quê e por que a organização trabalha. Desse modo, as tomadas de decisão passam a ser baseadas no conceito de pessoa e de sociedade que se busca construir, isto é, a partir de um projeto político.

Nesse sentido, o coordenador educacional assume um novo escopo de função. Sua incumbência é alinhar a equipe de educadores com a missão, visão e valores organizacionais, propor formações para seus colaboradores de acordo com os objetivos estratégicos da instituição e organizar, monitorar, avaliar ações dentro do projeto político. Seu foco direto são os educadores e, indiretamente, o público atendido.

Para que esta função seja realizada com qualidade é recomendado que seja desempenhada por um profissional que estuda o campo da educação e do terceiro setor e que tenha facilidade em motivar e desenvolver pessoas. Em concomitância e em parceria a este trabalho, outras áreas vêm agregar valor como a assistência social, a psicologia, a gestão organizacional, a captação de recursos etc, cada profissional contribuindo, a partir do seu enfoque, para a construção de uma entidade coesa, profissional e qualificada.

Este movimento envolve uma mudança de paradigma, pois é preciso abrir mão de antigas práticas e crenças e vislumbrar novos horizontes. Isso só se torna possível quando nos dispomos a possibilitar um ambiente organizacional reflexivo, cooperativo (não de autoritarismo), de construção (não de transmissão) de saber, primeiro entre os gestores e colaboradores, e depois, entre atendidos. Afinal, como diria Mahatma Gandhi “Você tem que ser o espelho da mudança que está propondo. Se eu quero mudar o mundo, tenho que começar por mim.”



Um comentário:

  1. Tássia!!!

    Obrigada pelas lindas palavras! Eu devo agradecer por esta oportunidade que me deixou muito feliz!!!!

    Obrigada pela amizade e carinho!!!!

    Um abraço apertado!

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Obrigado por seu comentário!